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:: o luto não está no negro das roupas ::
Milhares de anos passados e ainda não aprendemos a lidar com a morte. Dizem-no as palavras desastradas, os gestos inacabados, as lágrimas indigentes que não sabem nomear a dor de que brotam. Sustenta-se o inconfesso medo do desconhecido na sacralidade dos rituais, e neles depositamos o único consolo possível para o engano que é uma partida sem despedidas. É o assombro do indizível que nos esmaga, que me esmaga, que deixa a alma em destroços que não se sabe a que lugar pertencem.
Só os mortos sabem morrer. * os rituais, esses, são para os vivos, tal como as despedidas são para quem fica. E ali sentem-se densos e quase visíveis os laços quebrados, os laços fingidos, os laços incômodos - expostos, vergonhosamente, como o pudor da primeira nudez. -
Face a eles, os nós , firmes ante o silêncio, contra a irresolução do rosto desconhecido da morte que o habita.
Fica tudo por acabar.
Mas como se resolve sozinho uma vida que era dual?
Restam apenas os nós apertados em abraço. para recolher os destroços, e juntar os cacos.
Adaptação do texto de Mia Couto postado em my little black spot na Sexta-feira, Setembro 26, 2003
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