quinta-feira, novembro 08, 2007

Como Antígona




:: como Antígona ::

Eu sou aquele que não aprendeu a vergar-se perante as desgraças. os joelhos podem dobrar-se mas o espírito continua ereto e a espinha não se quebrará !


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«Há uma certa ironia quando se usa a expressão "Não Fode Nem Sai De Cima"

para falar de alguém que nos rouba o coração mas não nos ama.»


[avatares de um desejo ]


[não é ainda um regresso. estou só à porta a chutar os móveis. aconteceu-me exatamente uma coisa assim. insuflei. entre o aperto e a quebra, ainda assim alguma em mim se reafirmou. talvez consiga. os passos que ainda são muitos para os meus pés. alcancei a superfície e respirei de uma golfada. por um momento, voltei a pertencer-me e decidi o rumo dos meus soluços. tenho o rosto endurecido e a alma estilhaçada. mas encontro-me e reconheço-me em cada um dos fragmentos destroçados. não preciso de ti afinal. e consigo passar-te por cima como o bulldozer monolítico que sempre fui.
O amor e o cansaço não se implicam. A diferença do dia de hoje é que, no lugar do " te odeio " o meu grito é : "não preciso mais de ti ! " ]

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:: Os dias prometidos ::



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:: Os dias prometidos ::

para saber mais, seguir em busca dos dias prometidos.
este sou eu.
este também. creio ter-me escondido por medo que as promessas não se cumprissem. mas hoje, tudo é limpo e renovado. há surpresas que valem pequenos milagres. a natureza do mal veio até mim e (re)conheci um rosto próximo e familiar. há coisas inexplicáveis. :)

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:: Post-metade, ou dualidade sobre as promessas ::



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Post-metade, ou dualidade sobre as promessas ::


Dizia eu que afinal, inesperadamente, acontecem pequenos milagres. Nem tudo é exílio, nem tudo é templo que desmorona, nem tudo é tempo esquartejado. Há momentos com o seu tempo certo, com a sua fibra certa, com a limpidez e o rigor das promessas resgatadas dos destroços. o que me aconteceu, ainda, no dia de hoje foi isto: um dia prometido concretizado, um desejo feito matéria viva, um pedido concedido, como se tivesse esfregado uma lâmpada que atrasou o Setembro e me devolveu o azul que não fui a tempo de viver. Ah, sim... hoje fui à praia. tomei banho no mar e salguei as feridas.


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E.. o futuro !


I
Doravante já não haverá histórias para contar ao fim do dia, já não haverão as horas tardias de abraços tão mornos em frente ao televisor, já não haverá a possibilidade do convite para um passeio, para as coisas que se gosta de fazer a dois, tal como já não haverá o mesmo reconhecimento na voz, nem os telefonemas religiosos como um culto, nem sequer a disponibilidade para uma pergunta, para uma coisa qualquer que se diga que estreite o espaço - que ainda assim é tão doloroso, tão vasto - entre duas pessoas que se tocam na brevidade de um encontro. doravante já não haverá o que justifique preocupar-me se são seguras as tuas viagens de regresso a casa.
II
Qualquer coisa pergunta-me qualquer coisa uma tolice um mistério indecifrável simplesmente para que eu saiba que queres ainda saber para que mesmo sem te responder saibas o que te quero dizer

(Pergunta-me Mia Couto )
III
A deslocação interna dos órgãos vitais do amor em ruína asseguram a distância que de agora em diante nos diferenciará. Não mais nos confundiremos em desencontros e súplicas, nem as feridas abertas reclamarão o bálsamo do nosso nome comum. Em silêncio, o que havia de incerto estilhaça-se e desfaz-se para sempre. Há partes de mim deslocadas. mas que talvez estejam a caminhar para o lugar a que pertencem. Se fosse possível ainda - ou já - no tempo da saudade. Mas não é e não me atrevo a dizer o que sempre te quis dizer..: lamento, agora pertence a outrem. Tenho duas mãos postas no meu coração e basta-me. posted
by saturnine

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domingo, outubro 28, 2007

Excerto do poema Ithaca de Konstantin Kavafis.


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Este é um excerto do poema Ithaca de Konstantin Kavafis.

É a parte que eu já compreendo...Que trago comigo.
E escrevo agora porque afinal me enganei, está encomendado.
Teoricamente, teria agora apenas uma coisa a perturbar-me: mas não.
O que substitui a falta de Kavafis é uma falta ainda maior : a incapacidade de ler.
Acumulam-se pilhas de livros no meu quarto...Duas linhas já me cansam. estou esgotado. :

" When you start on your journey to Ithaca,
then pray because that the road is long,
With full of adventure and full of knowledge.
Do not fear the Lestrygonians ,
the Cyclopes and the angry Poseidon.
You will never nothing meet such as this on your path,
if your thoughts remain lofty, and if a fine
emotion touches your body and your spirit.
You will never meet the Lestrygonians,
the Cyclopes and the fierce Poseidon,
if you do carry them with
in your soul,if your soul does not raise them up before you..

"logo em seguida deixei uma Tradução :


" Quando você iniciar sua jornada para Itaca ,
Então reze pois aquela estrada é longa
Com grandes aventuras e profundos conhecimentos .
Não tenha medo dos lestrigonianos ,
os ciclopes e a ira de Possêidon .
Você nunca encontrará nada semelhante como isto em seu
caminho,
Se você não obstante ficar soberbo ,e se uma ótima emoção tocar
seu corpo e seu espírito .
Você nunca encontrará os lestrigonianos ,
os ciclopes e a ira de Possêidon ,
se você levar branca sua alma ,
E se sua alma não se exaltar diante de ti. "


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sexta-feira, outubro 26, 2007

:: Dos ecos dos passos por dentro ::


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:: Dos ecos dos passos por dentro ::



duas coisas me perturbam ultimamente, duas que são muitas no final de contas, mas que sejam duas para começar:
1. não consigo encontrar nada de Konstantin Kavafis. não o vejo nas livrarias, nem nas livrarias online. aparecem algumas páginas na net com pouca informação e um ou outro poema, mas isso não me basta. depois do poema Ítaca eu sinto necessidade de ler tudo e guardar tudo. recomendaram-me ainda Deus ---------------------------abandonou Antínoo. ajudem-me, -------------------------------------------------------------------sim?

2. praticamente não consigo ouvir música. se escolho ouvir, é por necessidade ainda presente de contornar a insônia, mas custa-me a decisão. sinto o risco iminente: tudo o que é afetivo é frágil. a música detém um magnetismo fenomenal no que diz respeito à apropriação da inteireza dos momentos - num rigor de mecanismos intactos que suplantam a própria memória. tenho medo de ouvir música, porque o que ouço hoje será o que não poderei ouvir amanhã. se não quiser arrastar um coro de vozes assombradas atrás de mim.



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:: Rumor ::



:: Rumor ::


sinto falta de um dia preciso. um único fim de tarde no lugar onde me aconteceu lembrar-me que há vários anos não era já criança. uma estrada estreita no primeiro breu de inverno, o mero som dos passos sobre o paralelo, árvores mudas em volta, o cheiro da primeira lenha chegando de longe, e o ar frio que me gelava no rosto um aroma de pinheiros, de pão quente, de castanhas e nozes à mesa de Natal.
sobre esse dia escrevi, sobre o espanto do primeiro negrume de Novembro. sobre o rumor desse mês de promessa de abandono e de morte. mas só hoje me ocorre ter-me doído o sentir distante os dias em que percorríamos a casa vasculhando os armários em busca de presentes embrulhados em papel colorido. isso e as mulheres todas na cozinha a esmigalhar pão para os mexidos.


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Starry Night, Van Gogh




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Starry Night, Van Gogh



por vezes esqueço-me o quanto gosto das coisas que gosto mesmo muito. mesmo no interior de um corpo destroçado, algo de essencial e bom se reúne.
Nada poderá agora deter o sol, e eu rendo os ombros à evidência da estação. caminho sobre folhas, escrevo no prolongamento das sombras. no meu jardim, sinto por vezes chegar o cheiro das uvas e da lenha. é já a certeza de mais uma pequena morte, «ó mãe, tenho mesmo que ir já dormir?»... «sim, já à tua espera está a tua cama de cinzas.»



Posted by saturnine

Lindo !
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:: porque eu avanço e ela não ::



:: porque eu avanço e ela não ::


A morte surda caminha ao meu lado , e não sei em que esquina ela irá me beijar...!
Nem sei porque vem isto a propósito.
talvez porque recordo os primeiros amores de infância, num dia em que a morte afirma a sua presença pelas palavras.
lembro-me da Ise , a Orquídea Negra , com o seu rosto que nunca envelhecerá.
E me vem esta estranheza de alguém que me parece apenas estar num lugar onde eu já não vejo. não sei porquê. acontece que nunca me lembro que tenho um amor que morreu , se foi . e por isso mesmo, se me ocorre pensar nos amores de infância, entristece-me saber que nunca conhecerei o rosto de uma Ise da minha idade. eu avanço e ela não.

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Flores de cravo da Ìndia


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[ Trago flores de cravo da Índia para oferecer às meninas que usaram coroas de espinhos
E pra ti que talvez em tempos de outrora as usasses , ou flores semelhantes aquelas que transportas em espaço dentro de ti , semelhante ao meu.
Trago flores de cravo da Índia , e flores ...
Também a ti, em cujas palavras me converto em transparência.
A ti ,que me desenhou em áspera adversidade... !
Sei Que a adversidade pode ser áspera, mas que nela nascem estrelas.
Por isso não lhe culpo , pois me deste um reflexo de azul eléctrico..
E semeado silêncio que inspira e comove...
E antes mesmo que eu possa exprimir um pensamento ,
os cravos me lembram que antes das lágrimas é sempre o silêncio que se pressente,
unido os lábios , que como duas pedras se quedam numa impossibilidade de palavras.» ]


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Outonal







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:: Outonal ::




hoje
senti o cheiro das uvas
o negrume adoçando os dedos
bago a bago o outono deflagra
e eu ouço
o canto triste dos plátanos
os passos dúbios da chuva
como se em algum lugar
houvesse pão a cozer
e um fogo dentro de casa
noite escura pela tarde ainda a meio
e recordo
os risos em volta da escola
os joelhos esmurrados doridos
esse tom de infância
que nunca mais terei.



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Outonal #2




O lamento visível é
o corpo que não volta
a fazer-se tenro,
como a promessa
de que há-de-crescer !
E nunca mais agora
poderei abraçar um plátano
com braços insuficientes ,
nem cair da bicicleta
para os silvados de amoras,
ou sequer aquietar um pássaro
nas minhas mãos de criança .
Se não fui a tempo
de rir todos os risos ,
cair em todos os caminhos ,
sonhar todas as histórias ,
talvez agora encontre
uma sucessão de passos
semelhante à memória
das sombras, na parede do quarto
dos casacos para enfrentar o vento ,
dos inesperados labirintos do medo !
Aguardo um Outono pacífico !
Um outro silêncio que não este ,
Um poço de folhas para pousa,
o corpo agora desmesurado
amedrontado e espectante.

posted by saturnine
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:: Madressilvas no caminho::



:: Madressilvas no caminho::


Recordo-me da rua quase íngreme, que descia até à antiga casa do avô, que era o único caminho que eu conhecia na minha terra. lembro-me dos molhos de silvas por onde enfiava os braços, alheio aos arranhões, para colher três encantos que desde então nunca mais encontrei aqui: bagos de amoras negras e doces, madressilvas perfumadas com seu corpo de bicho e o cheiro dos eucaliptos nos dedos.
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Do Outono


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Do Outono

Por tua causa
recordo a infância
vertebrada de afetos
Por tua causa,
o cheiro das uvas
nas urzes dos montes
Se me falam de figos
de mesas de Natal
de sol gelando na face
ou de qualquer outra coisa
densa próxima táctil
Acredito na intimidade das sombras
na natureza outonal do meu nome.
posted by saturnine

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:: Drenagem # ::


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:: Drenagem #1 ::

Não sei como dizer disto que me acontece, desta explosão de saudade insaciável, que me chega como escada de pau encostada a um muro que não termina. o que é curioso é que nunca fui criança de vindimas, de brincadeiras na terra preta, de subidas aos muros para roubar laranjas, joelhos esmurrados dos jogos-de-berlindes, nem sequer de histórias contadas pelo avô, biscoitos feitos pela avó. Isso nunca tive.
Nunca uma só vez fiz o caminho de casa de bicicleta, nem me apercebi que eram plátanos que ladeavam os meus passos incertos. acredito que nascem inseguras as crianças do Outono ; tristes e amedrontadas, talvez por nascerem próximas já dessa evidência da morte que é a nudez abandonada das árvores.
O peito enche-se-me de uma aflição irreconhecível, é certo apenas que Novembro está próximo e que terei novamente que aprender a caminhar pelas ruas debaixo de chuva, com as mãos perdidas pelos bolsos.
Tateio as palavras e avoluma-se o engano do que não fui. cresci emparedado pelos labirintos do medo. Fiz-me pedra, fiz-me fonte, fiz-me sombra.
Alheio às buganvílias, às magnólias, às heras que crescem como cabelos pelas paredes e pelas colunas. tive apenas o perfume das madressilvas, a doçura das amoras pretas, os domingos para ir buscar água à fonte.
Agora acontece apetecer-me o conforto do que passou, um lugar à mesa onde houvesse figos, pão e mel, e romãs como as de outrora, mas o que é incontornável são os lugares que restam vazios, e a certeza de que à mesa falta gente, ou falto eu, a tempo de crescer acreditando que o Verão também existe para recompor as almas do suplício da melancolia.
Tenho os gatos, tenho os cadernos de linhas, tenho acima de tudo esta visão sobre o deserto que é o lugar vasto que trago sob a pele, e assim caminho com uma mão aqui, outra ali, titubeando a natureza das feridas com estes equívocos que são os sonhos.
Arde-me por dentro o que até aqui foi o meu corpo, agora encolhido como se procurasse que os braços voltassem a ser pequenos e a oferecer apenas abraços raros, e não sei de fato dizer desta ânsia de um inverno que dure um pouco mais, que me deixe acomodar-me enrolado nas mantas de lã em roda do papel de embrulho rasgado apenas o tempo de esquecer-me que, regressando o verão, faltarás tu.

:: drenagem #2 ::

Hoje vou arrancar as fotografias uma a uma, da mesma forma que os nomes na lista telefônica se misturam em amigos indiferenciados. um outro dia, reunirei os objetos .
E um a um arrumá-los-ei em caixas. Organizar o espaço em volta é a segurança de organizar o espaço em falta [por dentro].
A pouco e pouco, aniquilarei os vestígios desta persistente presença. e não porque o tempo não permita o sossego da convivência, mas porque é chegado o tempo de morrer como morrem as folhas no Outono, e de vagar o espaço para que algo novo venha e dele se ocupe. é tempo de salgar as feridas e queimar a terra. porque chão que arde é chão tornado fértil, e certeza que algum fruto dele nascerá.

by : Saturnine

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.: para depois :.


gostar de ti é um engano, um desfasamento de tempo. certo é o não gostar de gostar de ti, o não suportar este não querer-te simultâneo com a saudade de tudo o que já não és.

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:: Apelo estético ::


É a preguiça, acima de tudo, o princípio gerador do caos que me sustenta.
E não é sem um certo incômodo que percebo a sua ação devastadora perante o tempo que passa, e subitamente me vejo mais próximo do limiar do tempo perdido.
" Tarde demais " é a expressão mais triste de qualquer língua.
No torpor da preguiça, há meses incontáveis que não visito o livro dos dias , que não me passeio pelos jardins do Palácio, que não vou ao cinema, que não leio jornais. só ia onde fosse a minha âncora. hoje, a tristeza de navegar à deriva é ainda assim uma promessa de liberdade, e o desejo de mergulhar finalmente no mundo que me espera. preguiçoso e ignorante é este pontinho. fui uma vez na vida à Casa das Artes, ver um filme que detestei. será compreensível?

DESTE OUTONO


foi hoje o equinócio de Outono no hemisfério norte. equinócio [do Latim aequinoctium] significa 'noite igual', referindo-se ao facto de a duração do dia e da noite ser igual no momento em que o Sol se encontra sobre a linha do Equador.

DESTE OUTONO

Novembro, som absoluto,
com as suas sílabas suaves,
as vogais pairando na aragem,
e na luz lenta dourada outros
sons soltos consoantes.
Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas

Postado inicialmente por Saturnine
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:: Estrangulam-nos os sonhos, os covardes ::


Pedem-nos que abdiquemos dos sonhos. pedem-nos que entreguemos os desejos de uma vida no prego, para uma outra geração os resgatar. Dizem-nos que não há espaço no mundo para se ser quem se quer.
E eu vou enfrentando olhos postos em mim , sei que posso fazer muito mais coisas que o natural mas... O problema é que esperam que eu faça e isto sem me pedirem. Isso é impossível para mim. Não espero que me compreendam, mas...Sou uma pessoa que precisa de tempo livre para sonhar , pra sujar as mãos de barro .
Sonhar é meu combustível.
Assim como um carro precisa de combustível eu preciso de meus sonhos e de minhas "viagens sem sair do lugar ". Festas não são o meu forte. Adoro a paz e a calma da minha casa, em especial do meu quarto !
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:: Desfaço durante a noite o meu caminho* ::



somos constantemente atraiçoados pelo subconsciente.
Tudo o que de dia precariamente construo, a noite audaciosa destrói. nisto percebo o que em mim há de Penélepe.
Contra minha vontade, a minha manta se desfaz. aquilo que esqueço e enterro durante o dia, o sono desenterra e traz à luz .
Não se consegue contrariar os sonhos, mesmo quando Ítaca é já uma ilusão distante.


* de Penélope Sophia de Mello Breyner Andresen
postado por Saturnine

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:: A propósito ::


um belíssimo texto, dos melhores que tenho lido, sobre o cibersilêncio:
« Percorro os blogues , a Blogolândia não existe, o que existe é um imenso falar que me suscita o sentido agudo de uma nova espécie de isolamento. Com que este ecrã faz fronteira, como faz fronteira o ecrã do outro.
E todas juntas as fronteiras formam favos, inúmeros favos como os das abelhas, onde há um teclado, um monitor e um ser sozinho que pensa e sente dentro de um favo.
Parafraseando, estou a cair nas malhas que o futuro tece.
Vou sair, coisas do trabalho, banco, papelada, mas também sol, árvores, e pessoas que afinal também são favos, dentro dos contornos rígidos da sua realidade ferozmente individual. »

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O que há de melhor nesta forma de expressão, para mim, é o encontro de afinidades. acusam-nos, a nós bloggers, de umbiguismo, elitismo, narcisismo, e outros quaisquer " ismos " enfadonhos.
Dizem que nos limitamos a falar uns dos outros, a cultivar egocentrismos.
sinceramente, isso não me interessa minimamente. como disse, o que aqui encontro de melhor são as afinidades. será também assim tão dramático nos círculos de amigos em que cada um fala de si e dos outros e constantemente se entrega a uma partilha do que, sendo comum, enriquece afetivamente todos?
Postado por Saturnine em my little black spot na : Quarta-feira, Setembro 24, 2003
Postado também por mim por concordar sobre a beleza do texto e também com a resenha
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