sexta-feira, julho 29, 2005

esperanças

Álvares de Azevedo

ESPERANÇAS

Oh! si elle m’eût aimé...

ALFRED DE VIGNY, Chatterton

Se a ilusão de minh’alma foi mentidaE, leviana, da árvore da vida,As flores desbotei...Se por sonhos do amor de uma donzelaImolei meu porvir e o ser por elaEm prantos esgotei...
Se a alma consumi na dor que mataE banhei de uma lágrima insensataA última esperança,Oh! não me odeies, não! eu te amo ainda,Como dos mares pela noite infindaA estrela da bonança!
Como nas folhas do Missal do temploOs mistérios de Deus em ti contemploE na tu’alma os sinto!Às vezes, delirante, se eu maldigoAs esperanças que sonhei contigo,Perdoa-me, que minto!
Oh! não me odeies, não! eu te amo ainda,Como do peito a aspiração infindaQue me influi o viver...E como a nuvem de azulado incenso...Como eu amo esse afeto único, imensoQue me fará morrer!
Rompeste a alva túnica luzenteQue eu doirava por ti de amor dementeE aromei de abusões...Deste-me em troco lágrimas aspérrimas...Ah! que morreram a sangrar misérrimasAs minhas ilusões!
Nos encantos das fadas da venturaPodes dormir ao sol da formosuraSempre bela e feliz!Irmã dos anjos, sonharei contigo:A alma a quem negaste o último abrigoChora... não te maldiz!
Chora e sonha e espera: a negra sinaTalvez no céu se apague em purpurinaAlvorada de amor...E eu acorde no céu num teu abraçoE repouse tremendo em teu regaçoTeu pobre sonhador!

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