Amo-te tanto, meu amor...nao cante
O humano coracao com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente da saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Rio, 1951
Vinicius de Moraes
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Rio, 1951
Vinicius de Moraes
AMARQue pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,
amar, desalmar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar?Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotacao universal, senaorodar tambem, e amar?amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisao de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoracao expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chao de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doaçao ilimitada a uma completa ingratidao,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Amo tudo neste mundo....
O amor, quando se revela,
Nao se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas nao lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Nao sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que estao a amar!
Mas quem sente muito, cala
;Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que nao lhe ouso contar,
Ja nao terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar
.
.
.
(Fernando Pessoa)
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