sábado, abril 29, 2006






Amor, quantos caminhos há até chegar a um beijo, que solidão errante há em tua companhia! Passam os trens sós rodando com a chuva. Em Taltal não amanheceu ainda a primavera.
Porém tu e eu, amor meu, estamos juntos, juntos desde a roupa às raízes, juntos com outono, da água, dos quadris, até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custa tantas pedras que leva ao rio, a foz da água de Boroa, pensar que separados por trens e nações.
Tu e eu tínhamos que simplesmente amarmo-nos, com todos confundidos, com homens e mulheres, com a terra que implanta e educa os cravos.



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Pablo Neruda




Wilder Wein




Wilder Wein - vor deinem Schloss Wilder Wein - ich bin bereit man meldet Ankunft - nur für den König Gott steh mir bei - und öffne deine Tore Wilder Wein - und ganz langsam Wilder Wein - so warm und feucht
Wilder Wein - vor deinem Schoss Wilder Wein - es steht geschrieben tief im Wasser - kreuzt man nicht doch meine Lust - verlacht die Flügel Wilder Wein - wie eine Taube Wilder Wein - so nass und heiss
Wilder Wein - vor diesem Dunkel Wilder Wein - von Licht geheilt es bleibt verborgen - sonst könnten wir uns wehren ich warte auf dich - am Ende der Nacht Wilder Wein - nur eine Traube Wilder Wein - und bitter wie Schnee
Ich warte auf dich - am Ende der Nacht


Vinho Selvagem
Vinho selvagem - ante seu castelo Vinho selvagem - estou pronto anunciam a chegada - apenas ao rei Deus, fique do meu lado - e abra seus portões Vinho selvagem - e bem lentamente Vinho selvagem - tão cálido e úmido
Vinho selvagem - ante seu colo Vinho selvagem - está escrito não se deve cruzar - águas profundas mas meu desejo - zomba das asas Vinho selvagem - como uma pomba (ou MULHER CEGA) Vinho selvagem - tão molhada e quente
Vinho selvagem - ante esta escuridão Vinho selvagem - santificado pela luz é mantido secreto - caso contrário poderíamos lutar uns contra os outros Eu espero por você - ao final da noite Vinho selvagem - apenas uma uva Vinho selvagem - e tão amarga como neve
Eu espero por você - ao final da noite









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Rammstein, 1995, 1999
Ah, qualquer coisa Ou sono ou sonho, sem doer isole O meu já isolado coração, Se as palavras que eu diga nunca podem Levar aos outros mais do que o sentido Que essas palavras neles têm, e [existe] [Por] fora do que digo, oculto nele Como o esqueleto nesta carne minha, Invisível estrutura do visível Diferente essencial...
Cai sobre mim, apagamento meu! Querer querer, inútil pedra ao mar! Saco p'ra colher vento, cesto de água, Caçador só do uivar dós lobos longe...

Canto XX - Segundo Tema - O Horror de Conhecer Fernando Pessoa


Por Caninus Lupus Segunda-feira, Abril 03, 2006 Uivos: 1

Sábado, Março 25



Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão
Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade


Por Caninus Lupus Sábado, Março 25, 2006 Uivos: 5

Domingo, Março 19



Quando uma comunidade camponeses semeia o campo, está confiando sua vida à terra e ao tempo. A colheita só irá ocorrer após diversas lunações. A invenção da agricultura, elemento fundamental daquilo a que chamamos de revolução neolítica, é também a exploração de uma nova relação com o tempo. Não que os homens do paleolítico tenham desconhecido o ato de postergar ou a previsão de eventos a longo prazo. Mas, com a agricultura, é a própria sobrevivência da comunidade que passa a depender da lenta maturação dos grãos no solo, da existência de estoques se espera a colheita.
A escrita foi inventada diversas vezes e separadamente nas grandes civilizações agrícolas da antigüidade. Reproduz, no domínio da comunicação, a relação com o tempo e o espaço que a agricultura havia introdozida na ordem da subsistência alimentar. O escriba cava sinais na argila de sua tabuinha assim como o trabalhador cava sulcos no barro de seu campo. É a mesma terra, são instrumentos de madeira parecidos, a enxaa primitiva e o cálamo distinguindo-se quase que apenas pelo tamanho. O Nilo banha com a mesma água a cevada e o papiro. Nossa página vem do latim pagus, que significa o campo do agricultor.



Caçando ou colhendo, obtêm-se imediatamente as presas ou colheitas desejadas. O fracasso e o sucesso são decididos na hora. A agricultura, pelo contrário, pressupõe uma organização pensada do tempo delimitado, todo um sistema de atraso, uma especulação sobre as estações. Da mesma forma, a escrita, ao intercalar um intervalo de tempo entre a emissão e a recepção da mensagem, instaura a comunicação diferida, com todos os risco de mal-entendidos, de perdas e erros que isto implica. A escrita aposta no tempo.


Pierre Lévy tradução de Carlos Irineu da Costa

Por Caninus Lupus Domingo, Março 19, 2006 Uivos: 2

Domingo, Março 12


A história do lobo bom
Da estréia polêmica ao trágico último ato, a carreira de Big Guy mal durou um mês. Mas, dez anos depois que saiu de cena, sua história começa a ser contada como uma história do tempo em que os bichos falavam. Apareceu em livro meses atrás, como uma nova saga do ambientalismo americano. E, do livro, que se chama Decade of the Wolf, ou seja, década do lobo, veio parar na revista Backpacker, que está fechando 2005 com uma edição dedicada aos parques nacionais nos Estados Unidos.
Big Guy era um lobo. Lobo mesmo, Canis lupus irremotus, de pêlos bege e lombo escuro. Vinha do Canadá. E foi solto na neve de Yellowstone, o primeiro parque nacional do planeta, encravado entre os Estados do Idaho, Montana e Wyoming, em janeiro de 1995. Naquele mês, quando 14 lobos foram trazidos do Canadá para repovoar Yellowstone, havia quase 70 anos que a espécie, inscrita na lista de animais em vias de extinção, não aparecia por ali.
Quatro semanas depois do desembarque, Big Guy foi morto e esfolado por um caçador. E mais 30 lobos levariam o mesmo fim nos anos seguintes, vítima de uma guerra local contra sua presença. Ou, como disse na ocasião o ecologista Mike Philips, chefe do Projeto de Restauração do Lobo em Yellowstone, de uma "controvérsia" sobre os lobos. Mas controvérsia é pouco, para uma briga feroz de 20 anos, que deixou até hoje processos pendurados na Justiça americana, tentando impedir que as autoridades pusessem em prática a teoria dos biólogos de que grandes predadores são instrumentos vitais para a conservação da natureza.
Onde eles faltam o que fica em seu lugar é um cenário que pode ter uma aparência muito saudável nas fotografias. Mas está morrendo lentamente, envenenado por desequilíbrios que aos poucos minam cumplicidade entre sua fauna e sua flora. É em nome dessa idéia que o biólogo Michael Soulé quer entregar às feras a administração das reservas de vida selvagem nos Estados Unidos.
Mas esse era só o argumento científico em favor do lobo. Contra ele havia alegações bem mais fortes, como cartazes chamando-o de "Saddam Husseim do mundo animal". E os fazendeiros temiam que ele devoraria rebanhos inteiros, como fez com a avó de Chapeuzinho Vermelho. Dez anos atrás, empurrados por sentenças judiciais em sessões que exigiram a presença de guardas armados, os biólogos venceram. E o resultado é que, atualmente, nada menos que 170 lobos passeiam por Yellowstone.
E antes que se pergunte o que o parque ganhou com isso, Douglas Smith e Gary Ferguson, definem a "década do lobo" pelo tempo que a vegetação original ressurgiu nos vales de Yellowstone, onde os alces já não pastam com a voracidade do tempo em que não havia alcatéias de olho neles. Rebrotando, os salgueiros e choupos trouxeram de volta os castores. As represas feitas por esses roedores criaram lagoas temporárias que atraem aves e répteis. Há menos coiotes e mais antílopes. As raposas se multiplicaram. E ultimamente deu para aparecer por lá um novo tipo de turista, o que vai para ver lobos. Ele deixa no comércio local a bagatela de US$ 23 milhões.
Parece que o parque tem tirado proveito até os uivos. Eles compõem, pela sonoplastia, a sensação de estar em contato com um ambiente genuinamente primitivo. E os fazendeiros, o que perderam com isso? Pelo visto, nada que o livro se dê ao trabalho de pôr na balança. Por razões que nem os cientistas explicam, os lobos de Yellowstone ainda não se interessaram pelos carneiros da vizinhança. Têm preferido carne de caça.

Marcos Sá Corrêa - jornalista e editor do site O Eco


Por Caninus Lupus Domingo, Março 12, 2006 Uivos: 0

Quarta-feira, Março 8



Parabéns neste dia por todos os dias do ano... pobre aquele que só se lembra hoje de toda sua essência mística de bênção e pecado... de toda sua força e beleza... de tudo que você representa e efetivamente é.
Obrigado por serem simplesmente o nosso tudo.
[OPJ] WJ Caninus Lupus

Por Caninus Lupus Quarta-feira, Março 08, 2006 Uivos: 4

Quinta-feira, Fevereiro 16



"Um total estranho, num dia negro Bateu, tirando de dentro de mim o inferno E ele achou difícil o perdão porque (assim se revelou) ele era eu mesmo - Mas agora aquele demônio e eu Somos amigos imortais".

E. E. Cummings


Por Caninus Lupus Quinta-feira, Fevereiro 16, 2006 Uivos: 4

Sábado, Janeiro 28


A Noite Dissolve os Homens
A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança... Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio... Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo, minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora.


Carlos Drummond de Andrade
Por Caninus Lupus Sábado, Janeiro 28, 2006 Uivos: 6

[OPJ]Wolf Júnior/Caninus Lupus
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